MPB clássica e erudito popular

(Reportagem do jornal Pampulha sobre a participação do maestro Roberto Tibiriçá no Retratos de Artista: Molduras do Pensamento )


PUBLICADO EM 25/04/14 - 12h11
A MPB é um clássico e a sinfônica é pop. A certeza da relação mútua entre o erudito e o popular é do maestro Roberto Tibiriçá, que em quase quatro décadas de regência se ocupou de promover diálogos entre esses dois mundos. De volta a Belo Horizonte, onde viveu por três anos (2010-2013), no período em que foi regente titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Tibiriçá vem mostrar os vários pontos de contato entre as duas linguagens musicais, em bate-papo na próxima quarta-feira (30), no CentoeQuatro, dentro do projeto “Retratos de Artista: Molduras do Pensamento”.
 
Foi logo no início da carreira musical que o maestro se viu diante da tarefa de unir a música dos violões com a música dos violinos. Ainda jovem, nos anos 1970, quando trabalhou ao lado do maestro Silvio Baccarelli na regência de orquestras e coros em casamentos, Tibiriçá fez seus primeiros arranjos para canções de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. “As noivas pediam para tocar na igreja músicas populares na época, como ‘Eu Sei Que Vou Te Amar’, ‘Se Todos Fossem Iguais A Você’, relembra. Foi mais ou menos na mesma época também que ele começou a ter contato com os principais nomes da MPB, como Elis Regina e Chico Buarque. Era comum os artistas utilizarem orquestras nas gravações de estúdio, e o maestro em formação dava um jeito de presenciar as sessões. “Às vezes, eu fugia da escola para ver essas gravações”, entrega.
 
O entusiasmo com essa mistura levou Tibiriçá, décadas mais tarde, a criar uma espécie de grife própria, a Sinfônica Pop. O projeto que convida artistas da MPB a relerem suas obras à frente de uma orquestra foi concebido e implantado pelo maestro nas orquestras em que esteve à frente: Orquestra Sinfônica Brasileira, Orquestra Petrobras Sinfônica e, mais recentemente, na Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Por aqui, João Bosco, Nana Caymmi, Zizi Possi e Gal Costa foram alguns dos convidados do projeto. Todos integram o vasto time de artistas populares com quem Tibiriçá já trabalhou em ocasiões diversas, e que inclui ainda Daniela Mercury, Frejat, Rita Lee e Wagner Tiso.
 
A natureza da música brasileira, segundo o maestro, facilita essa interlocução entre erudito e popular que ele próprio vem cultivando. “A música brasileira é um clássico”, decreta. “Qualquer música, quando é boa, dá para você adaptar. O Pink Floyd começou com essa história há muitos anos, quando lançou um LP com a Sinfônica de Londres. Mas a música brasileira tem essa riqueza harmônica, é uma poesia musical muito grande, principalmente nessa fase do Vinicius, da Dolores Duran, do Pixinguinha, Chico Buarque. São obras muito propícias para uma orquestração sinfônica”, explica. Sinal dessa predisposição, segundo o maestro, é que cada vez mais artistas se apropriam de orquestras, conjuntos de cordas ou instrumentos clássicos em seus trabalhos. “O Wagner Tiso usa muito esse recurso com a Maria Bethânia, o Egberto Gismonti escreve concertos para piano”, exemplifica. 
 
Atualmente, Tibiriçá atua como regente convidado da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, principalmente no projeto Osesp Itinerante, que leva concertos para cidades do interior paulista. Também faz as vezes de radialista na rádio Cultura, de São Paulo, à frente do “Arquivo Vivo”, programa de repertório erudito que prioriza gravações de orquestras e músicos brasileiros. Quando possível, trata novamente de unir o popular e o erudito, como na edição em que apresentou músicas de Sivuca em arranjos orquestrais. Seria ele um maestro popular? “Eu trafego em todas as estradas, desde óperas e sinfonias até a música popular. Me sinto bem eclético”, reconhece.
 
Retratos de Artista: Molduras do Pensamento

CentoeQuatro (praça Ruy Barbosa, 104, centro, 3222.6457). Dia 30 (quarta), às 19h30. Entrada gratuita por ordem de chegada. O Café 104 abrirá às 18h e a capacidade local é de 120 pessoas

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