Uma vez, em Buenos Aires, em um bar escurinho do tipo inferninho, um
grupo grande bebia, conversava, fumava, se entregava à noite. Era sexta-feira. Lá
pela meia noite, foram chegando de fininho músicos e ocuparam um tablado
central. Logo começaram a tocar um tango bonito com arranjos que aceleraram um
pouco as melodias conhecidas e algo mágico aconteceu. Ninguém mais falou nada. O
silêncio se impôs como em um teatro em dia de concerto de orquestra. Achamos
que aquilo era distante demais de nossa realidade brasileira. Mas ontem foi tão
bonita a presença do público que foi ver o Jorge Mautner! O Café 104 estava aberto normalmente e os pedidos
eram feitos como em um dia comum de expediente dali. Enquanto o Mautner falou,
houve um respeito tão grande. Os garfos ficaram mais leves que espuma e não
fizeram barulho ao cair nos pratos, as garrafas de bebida pousaram em câmera
lenta na mesa e até os garçons se fizeram plumas circulando com discrição. Um
exemplo bonito de ver!
Mautner saiu sorridente:
"As pessoas sempre me recebem tão bem. E até brinco: será que é pecado ser tão feliz assim?"
(Fotos: Ana Alvarenga)
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