Quatro questões para Renarde Freire Nobre, idealizador e coordenador do Retratos de Artista
O projeto “Retratos de artista: molduras do pensamento” nasceu da
ideia de provocar deslocamentos no campo do pensamento, procurando novos
olhares e novas interpretações, que não se reduzam ao que se faz
convencionalmente no âmbito universitário, onde os pensamentos são
frequentemente carregados de conceitos e sistematizações intelectuais, não
raramente distantes da vida prática. Daí a ideia de associar a atividade do
pensamento ao campo artístico, na crença de que ambas as dimensões venham a ser
valoradas, tanto a dimensão artística, ao se convidar artistas para refletirem
as suas criações, não apenas em si mesmas, mas na relação com o mundo e a vida,
explicitando-se o quanto toda arte é também uma atividade pensante; e,
sobretudo, realçar a dimensão do próprio pensamento, o qual, ensejado no
universo do fazer artístico, associado à experiência do artista e encorpado na
sua obra, inclui intuições e recebe contornos de matizes bem distintos das
teorizações que se produzem nas universidades e se conformam ao espaço
acadêmico. Assim, o projeto nasceu com a intenção primeira de trazer para cena
pensamentos arejados no interior de experiências artísticas intensas e
significativas, de modo a valorar novos olhares, lançando-os sobre um espaço
que tende a se conter em modelos, especialidades, normas, objetividades. Sim, porque pensar é lançar olhares. E
quando nos deparamos com as experiências artísticas, a percepção é a de que há
olhares especiais, pelo quanto as mesmas guardam de intuitivo, universal,
visceral, sensível.
Pensando no nome Retratos de Artista: Molduras do Pensamento, como
fazer um retrato via pensamento?
Sim, é exatamente essa a proposta: fazer retratos, mas tomando os
pensamentos como formas de se emoldurar um campo de experiência e criação
artísticas, o pensamento como modo de enquadramento de experiências tão
sensíveis e apaixonantes, contornando-as com ideias a elas associadas, fixadas a
partir das narrativas dos artistas sobre suas próprias experiências, sobre o
que as alimentam e o que com elas se aprende. Parte-se da convicção de que toda
arte é um ofício que enseja pensamentos vigorosos e que deixa marcas
significativas em seu criador. Esperamos com os encontros, ao se colocar
artistas e público em contato, colher um pouco dessas marcas e com elas poder
uma imagem menos conhecida do ofício artístico, seus ensejos e sua
significação, e, quiçá, por isso mesmo, obter imagens um tanto quanto diferenciadas.
O pensamento do artista cabe numa moldura?
Não, nada encerra o pensamento numa moldura, menos ainda o pensamento
artístico, mas tomamos as ideias expostas pelos artistas como linhas precisas e
vivas com as quais podemos ter uma imagem do homem e sua experiência vital, que
é a de viver para criação de obras e, em razão disso, estabelecer uma relação
reflexiva com o mundo. Queremos nas
conversas realçar a moldura, pois o alvo primeiro é o pensamento. Convidamos e
provocamos os artistas para que eles, no ensejo das suas considerações, possam
nos dar elementos para melhor conhecê-los e também melhor entender o seu ofício
e, em especial, a significação das suas obras. Se toda arte é pensante, ela é
também uma intervenção significativa no mundo.
Fale sobre os artistas escolhidos e a relação com a proposta.
A segunda edição do projeto mantém a mesma concepção original, ou
seja, propiciar a aproximação entre arte e pensamento. Contudo, foram operadas
algumas alterações importantes. Uma primeira, relativa ao local, com a mudança
do evento do Campus Universitário para um espaço de cultura situado no centro
da cidade, com o que queremos caracterizar melhor o sentido extra-acadêmico do
projeto bem como ampliar o público-alvo. Outra alteração diz respeito à
estratégia de concentrar os encontros no campo da música, convidando
compositores, instrumentista e maestro para tecerem as suas visões a respeito
da arte e suas relações com a cultura e a vida. Uma terceira alteração é a
introdução da figura de um mediador, um convidado “de fora” do campo artístico,
mas a ele ligado, por afeto e interesse, e que possa assim coordenar as mesas e
agir como um verdadeiro provocador do artista convidado. Sobre a seleção e efetivação dos convites a todos os participantes,
partimos dos nomes de artistas e estudiosos que valorizamos e que gostaríamos
de por em contato, e de ouvi-los conversando. Ao final, chegamos a quatro artistas e quatro mediadores, cujo
aceite muito nos honra e nos enche de expectativas. Estamos, pois, bastante
animados e esperançosos de que teremos quatro noites de encontros robustos e
agradáveis. Estão todos convidados!
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