Paulo César
Pinheiro tem uma relação antiga e muito profunda com Minas. A geografia, a
história e os mineiros. Um pouco, claro, por ter sido casado com uma mineira,
Clara Nunes. E também pelas vivências ao longo da vida. “O escritor que eu mais
admirei na vida era mineiro, Guimarães Rosa. Sempre tive muita ligação com
Minas: sua tradição, cultura, literatura.” Paulo César gosta de lembrar um concurso
popular uns anos atrás que elegeu Desenredo (“Ê Minas, Ê minas, é hora de
partir eu vou) como a segunda música mais emblemática de Minas, só perdendo
para Peixe Vivo. “Tenho grandes parceiros em Minas. Um é o Sérgio Santos. Outro
é o Sirlan, meu amigo e parceiro desde os anos 70.” Paulo César e Sirlan Antônio de Jesus
fizeram juntos um musical, Gerais do Brasil, até hoje guardado no baú afetivo
dos dois que ainda pensam em encenar ou gravar o conjunto de músicas. “É um trabalho
lindo que revira Minas Gerais de trás pra frente”, definiu Paulo César Pinheiro.
Sirlan Antônio de Jesus, músico,
produtor, ex-diretor das rádios Inconfidência e Nacional do Rio de Janeiro, primeiro
parceiro mineiro de Paulo César Pinheiro falou sobre os anos de amizade e a
parceria:
Sirlan – Eu conheci
o Paulinho no princípio dos anos 70. Eu fui baterista do MPB4 (desde 69). Lá
nesse período conheci o Paulinho e Maurício Tapajós. E também porque a Clara
era minha amiga. Eu a conheci em Belo Horizonte. Eu ficava um pouco no Rio, um
pouco em BH. Em 72 quando fui participar do Festival internacional da Canção
fiquei no Rio pra valer. Paulinho se apresentou com “Diálogos”, dele e de
Baden. Eu defendi “Viva Zapátria”. Cresceu uma amizade muito forte entre nós.
Começamos a namorar uma parceria. Uma vez, em uma passagem dele por Belo
Horizonte, fui ao hotel em que ele estava, ficamos conversando e tocando
comecei a tocar algumas músicas e ele daquele jeito peculiar falou: essa música
tem cheiro de coisa de Minas, catedral. Essa outra tem cheiro de minério. Ele
sempre diz que toda música já tem letra. A música já nasce com uma letra. A função
do letrista é decifrar a letra que ali já existe, não acumular palavras sobre a
melodia. Esse é Paulinho. A música já
tem uma carga, uma ideia. Isso difere as pessoas.
E como caminhou a parceria?
Sirlan - Deixei
algumas músicas com ele, voltamos para o Rio. Na época ele estava com parceria
com Dori. Passados alguns dias ele me liga. Me disse que já tinham 4 músicas
prontas. Ele me disse que essas músicas queriam dizer uma história. E criei
coragem e mostrei mais. Fizemos nessa época mais de 20 músicas. O MPB4 gravou “Cantiga
de beira d'agua”. Foi a única gravada. Isso acabou virando o que chamamos “Gerais
do Brasil”. A música que abre esse musical se chama “o cantador das Gerais”.
Depois tem “Serenata De Diamantina”, “Mural de São João Del Rei”, “Os
tamborzeiros”, “Canto da colheita”, “Os barqueiros do São Francisco”, "As Serras", “Os retirantes”,
“Casa de Beira Estrada”, “Desafios de violas”, “Os ciganos da Mantiqueira”, “Dançadeira,
que tem todo o jeito da Clara. Todas músicas minhas e letras do Paulinho. Isso
ainda está inédito.
Ainda pensam em
fazer o musical?
Sirlan- Queríamos fazer
um musical com isso, mas tentativas que fizemos não deram certo na época. Ainda
penso. São 22, 23 músicas. Continuei em contato com ele o tempo todo. Fazendo
música, conversando, nos encontrando. Fizemos mais. Temos mais de 30 músicas
juntos. Temos vivência de frequentar casa um do outro. Somos amigos há mais de
40 anos. Eu tenho saudade dele e sei que ele tem de mim. Já saímos para torrar
muito porre, encostar no balcão para escutar a conversa dos outros. Em Belo
Horizonte também, em lugares como a Cantina do Lucas, mas andamos muito mesmo foi
pelo Rio de Janeiro. De vez em quando cometíamos a loucura de passar a noite em
São Paulo e voltar na manhã seguinte. Pegávamos o primeiro voo de volta.
-O que você
acredita que o singulariza na música?
Sirlan- O
Paulinho é um grande poeta. Na mão dele letra de música vira poesia. Ele brinca,
sabe usar as palavras. Ele é muito rebuscado e muito simples. Você pode
enxergar a música dele como um leigo ou como um literato. A mensagem que ele
quer passar nunca está escondido. O grande traço dele é que ele faz poesia
maravilhosa e que qualquer pessoa entende. O assunto não fica às escondidas. O
que ele está dizendo é claro. É bonito, refinado literariamente, mas qualquer pessoa
entende entende e isso é maravilhoso.
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